Enquanto Robert Shiller, Prêmio Nobel, prevê bolha no Brasil, analistas
afastam possibilidade, mas mostram preocupação com algumas empresas listadas na
Bovespa
Construção civil:o
índice Imobiliário (IMOB) tem o pior desempenho entre os índices
setoriais da Bovespa em 2013
São Paulo – Um
dos alertas mais recentes de Robert Shiller (um dos
ganhadores de hoje do prêmio Nobel de economia) para o Brasil é o de uma bolha imobiliária – tema que o
professor de Yale domina. Para quatro analistas consultados por EXAME.com, não
há bolha imobiliária no radar e a explicação para as dificuldades das empresas
do setor estaria mais nelas mesmas do que no cenário externo.
No primeiro semestre
deste ano, das 20 construtoras e incorporadoras listadas na Bolsa relacionadas
pela consultoria Economática, sete apresentaram prejuízona primeira metade do ano e cinco viram
seu lucro cair em relação ao mesmo período do ano passado. Por enquanto, o
Índice Imobiliário (IMOB) tem o pior desempenho entre os índices setoriais da Bovespaem
2013.
Mas o desempenho
tortuoso não estaria, necessariamente, ligado a uma bolha. “Os níveis atuais de
preço, no mercado imobiliário, não condizem com a evolução da renda, isso
sinaliza um excesso de valorização nos preços de imóveis, mas para chamar de
bolha, estamos longe”, afirmou Marcelo Torto, analista da Ativa Corretora.
Apesar de ocrédito imobiliário ter crescido 37% entre janeiro e julho, no Brasil,
a representatividade dele em relação ao PIB é de 7,5%.
Os preços no mercado
imobiliário no Brasil mudaram nos últimos anos. O “reajuste” dos últimos cinco
anos, como os analistas falam, reflete um mercado estagnado por muito tempo e
uma conjunção de fatores, como o crescimento da renda da população e o déficit
habitacional.
No
final de 2009 e começo de 2010, algumas construtoras estavam com o caixa
robusto em decorrência das ofertas públicas de ações em 2007 – ano em que o
setor dominou os IPOS. Com dinheiro e incentivos do governo, foram realizados
muitos lançamentos e com eles, em alguns caso
s, vieram os
problemas.
“A partir de 2008, com capital estrangeiro, muitas construtoras tiveram
grandes aportes de capital e começaram a investir sem bom direcionamento”,
afirmou Marcelo Torto. Esse ciclo de investimentos está se encerrando agora,
mas mesmo assim, o atual cenário para as construtoras é negativo, para o
analista. De acordo com a Ativa, as empresas que estão se saindo melhor são as
que não tiveram grandes aportes de capital no passado e um crescimento
desordenado – mas a corretora não tem nenhuma recomendação de compra entre as
construtoras.
“Execução é um fator estratégico. Muitas construtoras estão, até hoje, entregando prejuízo. Ainda é a execução que
separa o joio do trigo no setor”, afirmou Felipe Silveira, analista da
Coinvalores. Entre as recomendações de compra da Coinvalores estão Eztec, JHSF
e Even. A Coinvalores não recomenda exposição aos papéis da Gafisa e PDG “mais
por não conseguirmos ver se a estratégia adotada a partir do ano passado é
vencedora ou não”, disse Silveira.
ara Wesley Bernabé, analista do BB Investimentos, o
que diferencia as empresas do setor que estão na bolsa hoje é a geração de
caixa. “Hoje, com o mercado desacelerado, os investidores veem quem passou do
nível de endividamento. Companhias que já geram caixa ou tem mais expectativa
de gerar caixa no curto prazo são beneficiadas em relação às que ainda lutam
com o endividamento”, afirmou Bernabé, citando, no segundo grupo, Rossi, PDG e
Brookfield. O BB Investimentos vê com bons olhos MRV, Cyrela e Eztec.
“O grande problema é que o boom dos preços me
parece que já passou”, disse Pedro Galdi, estrategista-chefe da SLW Corretora.
Para Galdi, o excesso de novos empreendimentos, associado ao maior volume de
imóveis usados sendo vendidos, interrompe o eventual ajuste de preços, mas os
preços tendem a se reajustar. “A bolha não vai estourar, se assim podemos
dizer, mas os preços tendem a se ajustar a maior oferta de imóveis para baixo”,
afirmou.
Para Bernabé, rumores sobre uma possível bolha
imobiliária não afastam investidores – mas o endividamento e boatos sobre o
cenário macroeconômico doméstico um pouco fragilizado podem impactar. Para
Silveira, o mercado imobiliário tem retomado antes da economia. “As vendas tem
sido fortes esse ano e as construtoras tem voltado a crescer, até porque o
crédito imobiliário tem sido um foco de crescimento dos bancos. Para as
construtoras, a questão é olhar o próprio umbigo e saber até onde pode
crescer”, afirmou.
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